quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

John Lennon



Há 30 anos
numa tarde fria em Nova York
John Lennon viajava
para uma outra dimensão
quem sabe mais próxima daquela que
com seus versos
sua voz
[coração
ousou imaginar
e cantar

Há 30 segundos
numa tarde quente em São Paulo
John Lennon reviveu
neste outro coração
que segue a lembrar
cantar e louvar
esta voz
[emoção
que tanto soube sentir, lutar
e amar

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

limiar

na corda bamba
caminha o bêbado equilibrista
corpo suspenso no ar
...
resvala o céu
apruma o senso
balança ao vento
...
sobre o imenso penhasco, seu corpo pende
quase sente as escarpas
rasgarem-lhe as entranhas
...
numa fração de segundos
todos os rostos
e paisagens
e sentimentos
e caminhos
voltam ao seu espírito
...
e quando tudo parece perdido
num suspiro
ele se mantém à queda
...
bate as asas e voa
ao encontro
da Lua bela

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

TV Charolasta



Esta é a primeira parte de um vídeo do qual participei como apresentador, para ajudar em um trabalho de faculdade de alguns amigos que fazem Design Gráfico na FIEO, ali em Osasco.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A arte do encontro / ou / pequena viagem ao âmago da arte





O que é a arte, qual seu sentido? Seria a produção de  pinturas, romances, músicas, esculturas, com base em técnicas específicas e referências históricas? Ou o reconhecimento da 'genialidade' de determinado artista? Penso que o motivo primordial da arte seja promover encontros. Consigo mesmo, com o outro, com culturas diversas, com o mundo.

Tive um encontro destes recentemente. Convidado pelo meu amigo Marrey Peres Jr., da Galeria Ponto Art, participei de um projeto artístico de intensas repercussões pessoais, ao produzir uma série de poemas para uma exposição do professor  da UNESP e artista plástico dinamarquês Ole Skovsmose.

Ao escrever, com base em algumas poucas referências, estes poemas, busquei em meu âmago sentidos pessoais acerca da temática e da emoção pretendidas por Ole em sua série de pinturas "Tocando o Horizonte".

O resultado aleatoriamente irmanado - livremente complementar - entre as poesias e as pinturas, a despeito de não haver sido pensado com algo integrado, fez-me refletir sobre o alcance de nossa percepção e pensamento, e sobre a enigmática dinâmica universal que rege a lógica dos encontros.

Natural, assim, que nascida a relação - intersecção - entre duas expressões artísticas distintas, entre corações e mentes que se afinam, houvesse o prolongamento dessa "conversa", em mais um evento, que acontece na quarta-feira, 17 de novembro, das 19h30 às 21h30.

Quem quiser ouvir a leitura de algumas poesias e ver os belos quadros de Ole, é só passar por lá. O endereço: Rua Inácio Pereira da Rocha, 246 - Vila Madalena - São Paulo. Tel.: 2548-1661.

Ah, vale destacar também que a exposição saiu em alguns veículos de comunicação, como nesta matéria do jornal Diário do Grande ABC:


tangente


teu poema é fugidio

acanhado

como um dia frio

olhar atento

ao movimento sinuoso do rio

...

tua nudez é acanhada

fugidia

como um dia frio

coração atento

ao movimento sinuoso do rio

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

pelos muros de São Paulo eu leio:



me abrace e me dê um beijo

às cinco da manhã fico maluco: todos os pássaros viram cuco

que importa o sentido se tudo vibra?

é o saci-pererê que diz: a cidade está pulsando!

um ato de bondade, por menor que seja, nunca é em vão

vista-se como se não houvesse espelhos

nada tenho, nada sou, mas na simplicidade de meu nada é que ti desejo tudo!

não ao muro de Berlim, a Via Oeste quer fechar esta avenida

ame seu amor

o amor é importante, porra

amor punk

Vanderson, te amo!

gás de pimenta para temperar a ordem

fora Maluf e as privatizações – CMTC é nossa – comitê de luta dos trabalhadores

o Senado brasileiro é uma suruba, mas é o povo que se fode

a união faz a forca

Salve Zorro!

peace and love

all you need is love

good bless children 

um beijo, vó!

stilo sempre alerta é o certo! é sempre bom estar esperto!

sem Jesus não existe verdade

rua Deputado Sérgio Fleury

love will tell us apart

classe merda

vicios

i want to walk uppon the stars

John Cocaine in the piano

sonhe o irreal, viva o ideal

sou eu?

códigos psicos

por onde andará minha mente?

longe, muito longe...

vida lôca

Nunca deixe de sorrir. Não deixe sua luz se apagar.

terça-feira, 14 de setembro de 2010



este é a primeira parte de um belo documentário chamado Singing Revolution, que fala sobre o povo estoniano, como foram subjulgados neste último século por russos e alemães, em ocupações sucessivas, um povo que perdeu 1/4 de sua população durante a Segunda Guerra Mundial, que foi escravizado em nome de um falso socialismo, e como mantiveram viva a chama de sua nação, sua unidade, seu espírito, através, sobretudo, da canção, a capacidade de cantar em meio à tormenta, a essa tradição oral que os permitiu sobreviver à barbárie. Traz cenas belíssimas, de mais de 25 mil pessoas em um coro totalmente integrado, de arrepiar. De como é possível resistir e vencer a violência através da não-violência. O vídeo dura mais ou menos 1 hora e 40 e é em inglês, mas mesmo pra quem não entende totalmente o idioma, como eu, dá pra sacar o contexto.

sábado, 11 de setembro de 2010

Gol!

Campo aberto
expectativa
e então surge - perspicácia do armador

o espaço vazio

no lançamento longo
desmontam-se os esquemas
táticos

teorias

a torcida, num relance
vislumbra
a chance

sobressalto

e no frisson da massa
o atacante
escapa à marcação

liberdade

pra num toque sutil
enganar o goleiro
e fazer a alegria da galera:

É gol, que felicidade!

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A carpideira

Lúgubre era a fachada daquele antigo casarão. Ainda mantinha resquícios da longínqua imponência, é certo, mas já não passavam de fugazes vislumbres de um tempo esvaído no acumulo das impressões. Ficava em uma rua pouco movimentada de São Paulo, defronte a uma praça singular, porque torta; passear nela era uma experiência estranha, tudo ficava sob uma nova perspectiva. Talvez pelo surreal da situação, poucas pessoas se aventuravam a caminhar nessa praça.

Laetitia era uma delas. Costumava andar pelo local, era um dos poucos espaços onde se sentia à vontade. Talvez por ser quase deserta. Não que sentisse aversão ao convívio social. Esforçava-se por simular um sorriso ou dissimular uma quase indisfarçável tristeza. Mas seu semblante revelava indizível melancolia, e talvez por isso mesmo ninguém se importasse muito com ela. A bem da verdade, sempre fôra extremamente acanhada, quase arredia; e assim, naturalmente solitária.

Mas o fato é que Laetitia morava exatamente no referido casarão. Já há longo tempo só, tinha perdido contato com parentes – afora aqueles que vez ou outra pressentia, sobre o que por hora não cabe discorrer. O que convém revelar é a sua ocupação: Laetitia era carpideira.

Descontando o componente insólito, pode-se dizer, com efeito: era algo que a movia visceralmente. Mais além, é justo afirmar, não podia ficar sem trabalhar. Precisava compartilhar a dor do outro. Era como um alimento, as lágrimas alheias reascendiam a vida em seu olhar fugidio, iluminando a palidez de sua face linda. Mas ao contrário do que se possa imaginar, Laetitia não aceitava qualquer trabalho. Ela escolhia aonde deveria sentir a dor do mundo. Seu rumo diário era definido invariavelmente do mesmo modo: a viagem pelas páginas do jornal promovia o encontro, sinal direto a indicar o próximo passo.

“Casal de jovens amantes morre em dois trágicos acidentes de carro.” O interesse capturado levava seus olhos à intimidade dos detalhes. “Guillermo Villabiom Montalban & Guerrero e sua noiva Angelita de Jesus & Jesus faleceram na noite desta sexta-feira, vitimas de duplos e simultâneos acidentes de trânsito. Coincidência trágica, os dois acidentes ocorreram com poucos minutos de diferença, em pontos distintos de Buenos Aires.”

Sentindo o corpo estremecer e arrepios a percorrerem-lhe a espinha, Laetitia decidiu conhecer a capital portenha. Rapidamente encontrou o cemitério Rio da Prata. Observando sem ser vista, sentiu as duas famílias congregadas no silêncio da desesperança. Levando as mãos ao rosto lívido, enxugou lágrimas sentidas e, em êxtase, orou pela alma em transição.

Quando percebeu, estava novamente na praça, em frente à sua casa. Fraca, sentiu as energias esvaírem-se-lhe. Dormiu ali mesmo. Sem saber se sonhava, viu-se em vasta praia. Estirada na areia, absorvia o sol escaldante com um jornal nas mãos. Nele, uma das manchetes dizia: “No Congo, 39 pessoas são queimadas vivas – a maioria mulheres e crianças.”

Sufocou as lágrimas e levantou-se resoluta. Sem saber o que a movia, caminhou sem cessar até chegar àquela grande vala coletiva, na qual poucas pessoas cumpriam um cotidiano ritual sem perder a dignidade humana. Como de costume, esgueirou-se sem ser percebida por entre olhos fundos e cansados, até estancar defronte a uma garota de expressão tangida e inerte. Levando as mãos ao rosto lívido, enxugou as lágrimas sentidas e, em êxtase, orou pela alma em transição.

Quando percebeu, estava em seu quarto, absorta em lembranças do passado ainda presente. Como as forças lhe faltassem, adormeceu profundamente. Acordou com o toque telúrico de uma intensa lufada de vento e, por instantes, imaginou ter despertado em uma outra dimensão. Logo percebeu tratar-se de uma fresta na janela de seu já não tão acolhedor quarto. Levantou-se lentamente, como se em transe estivesse. Conseguiu, por fim, vencer os degraus e alcançar a escura sala. Lá estava o jornal. Mal pousou os olhos profundos nas páginas da gazeta, vislumbrou um novo destino.

“Criança iraquiana morre após ser atropelada por tanque norte-americano.” Frenesi intenso assomou-lhe o corpo translúcido e, com o sentimento do mundo vibrando em seu íntimo, revelou-se à sua vista a imagem de uma antiga e devastada Babilônia. Não atuaria em um cemitério, desta feita. O enterro, simples e sem recursos, seria feito no quintal de paupérrima casa; a cerimônia carecia até mesmo de um caixão, substituído por uma caixa de papelão empapada de sangue e revolta. Postou-se ao lado de uma jovem com expressão atônita e, sem ser percebida, cumpriu o ritual. Levando as mãos ao rosto lívido, enxugou as lágrimas sentidas e, em êxtase, orou pela alma em transição.

Ao retirar as mãos dos olhos úmidos, pôde enxergar uma paisagem familiar. Era a fachada do antigo casarão em que morava. Notou então, como nunca antes notara, as paredes sujas, e imponentes árvores cercarem a casa, invadindo-lhe os espaços descuidados. Não reconheceu seu lar. Por um momento, não reconheceu a sim mesma, perdida em pensamentos desconexos.

E então viu aquele monte de folhas velhas soltas em um banco da praça. Que se transformaram, como já observou Cortazar certa vez, em um jornal, nas mãos geladas e ao mesmo tempo cálidas de Laetitia. As letras ganharam forma e compuseram as palavras de uma notícia curiosa:

“Mulher é encontrada morta pela filha depois de seis meses.” Quer pelo inusitado do ocorrido, ou pelo mórbido, Laetitia deixou-se levar pelas linhas reveladoras, que diziam: “Laetitia Munari Okhnaré, 66 anos, foi achada morta em casa pela filha, Riva Munari Okhnaré, no bairro de Vila Romana, nesta Capital. O corpo da falecida jazia na cama e, segundo o legista que acompanhou o caso, a mulher estava morta há mais de seis meses. De acordo com Riva, esta não visitava a mãe fazia oito meses, desde que tiveram uma briga durante a noite de Natal.”

Com o coração aos saltos, abriu-se um clarão para Laetitia. Esse seria o último ato de uma vida até então inexplicável. Choraria em seu próprio enterro. Celebraria a ansiada libertação. Os caminhos seriam outros a partir desse momento. Apressou-se em chegar ao cemitério da Eternidade. Ninguém acompanhava o sepultamento. Nem mesmo a filha. Laetitia deu início ao ritual. Levando as mãos ao rosto lívido, enxugou as lágrimas sentidas e, em êxtase, orou pela alma em transição.

Quando retirou as mãos do rosto, já não reconhecia o que via. A claridade leitosa iluminava um ambiente aconchegante. Vozes familiares invadiam-lhe os ouvidos. Reconhecendo a si mesma, sorriu, com a leveza esquecida nas cavernas de um íntimo antes destroçado. Estava livre agora. Então pôde ver como era lúgubre a fachada daquele antigo casarão. Mas não importava. Aquele mundo já não era mais seu.

terça-feira, 20 de julho de 2010


hoje acordei querendo praticar
tiro ao alvo
logo desisti
ainda bem

Palavras ao vento

palavras ao vento
soltas
sem tempo
vagando no
leito
profundo
da imaginação

ecos dum tempo
solto ao vento
leito denso
da imaginação
a flanar
palavras
e vagar

sinfonia de ecos soltos no
tempo
vagando
sem leito
densos
a flanar em
profundas imaginações

vagando soltos
ao vento
os ecos
e os tempos
serpenteiam o leito
denso
da imaginação profunda

flanam

palavras ao vento...

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Alguém sorriu de passagem


Alguém sorriu
de passagem
numa cidade
estrangeira.

O que estará
pensando
o velho que caminha
de cabeça baixa

o casal que
se ama
no beco
furtivamente

os amigos que
brincam
e sonham
alegremente

quais serão suas
histórias
dramas
expectativas?

Sob as guirlandas
que realidades encerram-se
nestes universos únicos, particulares
de cada ser que habita este mundo?

Atrás das máscaras
que desejos se afogam
inauditos
malditos?

Quais palavras, brados
aquiescências, gritos, soam abafados
sob a superfície cômoda das
aparências supérfluas?

Quais verdades
se afirmam, e colaboram
sutis
com o mundo em (re) construção?

Quantos vulcões prestes a explodir?
Quantas evoluções prestes a consumar?
Quantos desencontros prestes a consumir?
Quantos sorrisos prestes a alimentar?

Alguém sorriu
de passagem
numa cidade
estrangeira

e a vida
fez-se inteira, novamente
para sempre, num único
momento completo.

Eu sorri
de passagem
numa cidade
estrangeira.

terça-feira, 27 de abril de 2010

um sorriso solto no centro do caos

a cidade

o fluxo

incessante

homens e carros

fumaça e trabalho

as ruas paradas

as caras travadas

a rotina

massacrante

e quando

tudo

parece cinza

escuro

um sorriso

solto no centro do caos

ilumina

a alma

rebrilha

a vida

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Romance marginal

Peço-lhe um cigarro
traduzo tua língua
sem ao menos
te ouvir.

Vejo em teus olhos
a chama incandescente
delirante
como Sol de praia no verão.

Tua mão desliza
esguia [enguia
levita
e oferece o cigarro em brasa.

Toco tua mão
e sinto tua pele
macia,
festiva.

E quando acomodo o cigarro entre
meus lábios
sinto o calor de
teus lábio.

[fogo a queimar minha
alma.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Abertura

Sorria
seja suave
assim como a
singela flor
perfuma o vale

Integra
seja amizade
assim como o
fraternal abraço
de irmandade

Ama
seja felicidade
assim como o
abençoado semblante da
criança que nasce

quinta-feira, 25 de março de 2010

Aquiescência anêmica aos aviltadores de
almas
arte amoral
alimentando

algozes ]

anos anestesiados em
anomalias – ausência
aguardando a
aurora

terça-feira, 9 de março de 2010

Fragmentos

e quando não há esperança
e quando não há alegria
e quando não há utopia
e quando não há aliança

há de se criar sorrisos
há de se recuperar motivos
há de se perceber detalhes
há de se absorver olhares

e quando não há desejo
e quando não há bondade
e quando não há vontade
e quando não há esteio

há de se permitir
pulsar

há de se sentir
vibrar

há de se respirar
alimentar

há de se descobrir
revelar

enxergar oceanos
mergulhar
desbravar galáxias
brilhar

e na mais remota dimensão

viver
crescer
aprender
compreender

o insondável enigma de
ser

segunda-feira, 1 de março de 2010

No caminho pra casa

dias de fúria em minha

mente

turbilhão

a vida pulsa em minhas

veias

vastidão

os sonhos agitam-se em meu

espírito

revolução

e na guitarra elétrica

Hendrix

ressoa

Castles Made of Sand

trilha sonora de hoje

no longo caminho de volta pra casa

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

...

Calado, falo
retrato
o que sinto
num estalo

de minhas pálpebras
dissimuladas
e minha íris
em ti focada

revelam-se palavras
desditas
benditas
recitam-se sonatas

retoma-se o silêncio]

da noite quente
dos corpos unos
a boca sente
o hálito rubro

mais uma taça, por favor
de vinho do Porto
mais um beijo, por favor
para que não me sinta morto

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

O lírio (a flor no charco nasce)


No charco
nasce a flor
do lodo
ela emerge
bela
rediviva
qual espírito da floresta
imortal
imemorial
inaugural
renascida eternamente
terna
na certeza de ser
eterna
de tão singela
e sempre crescente no caminho de ser vivente
– também poente
ela
a flor
cria a cor
do ente que sente
cada mente
mesmo aquela
inconsciente
na esperança de
ser
ver
crer
completo e
mesmo no charco
de ser pulsante
de ser vibrante
de ser errante
de ser andante
e exalar o
perfume discreto da
elevação
até o sutil aroma de tua
pureza
impregnar todo o pântano
e do lodo criar a mais plena
poesia