terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Horizonte na fronte


Horizonte
na fronte
no íntimo
psiquico
superego
cores na mente
luzes
certezas à frente
inexatas
desnudam
cruzes
vertidas no ventre
fértil
da imaginação profunda
tormento
id
sentimento imenso
realinha
o verso sobre o
Universo
infinito
expansivo
decifra o
ego
inverso
enigma
na fronte
horizonte

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Deixe estar



não se deixe
siga o feixe
de possibilidades infinitas
de vontades benditas

tão mais amplas
que pequenas tramas
tão mais reais
que egoísmos venais

o sal da terra
refaz a flor
o sopro do vento
desfaz a dor

tão belas palavras
florescer
além de rútilas quimeras
aquecer

espaços possíveis
movimento intenso
corações sensíveis
sentimento imenso

deixe vibrar
amar
voar
deixe estar

terça-feira, 18 de outubro de 2011

depois das seis

A Máfia Siciliana na Vila Madalena,




instalou-se, não se sabe quando, talvez em uma época indefinida,

perdida nas rubras brumas do esquecimento.



Supõe-se, dizem alguns,

ter começado naquela tarde ensolarada de verão, quando

já se iniciava o movimento rumo às cadeiras dos bares,

as trupes urbanas seguindo para curtir o depois das seis

e deixar nos copos de cerveja todas as preocupações

ou não.



Foi quando o Cabeção entrou atirando no bar:



- ninguém ao menos se mexeu nos segundos em que

sua arma levou a vida de Jotabê -



Ainda envolto pela fumaça que saia pelo cano da 45

Cabeção conferiu se estava tudo certo e saiu,

sem ninguém a lhe fitar.



A não ser ela,

a Morte.

sábado, 15 de outubro de 2011

Narrativa inspirada em Abutre, de Gil Scott-Heron

Várzea




Acabara de chegar ao campo de terra que, além de arena de clássicos embates da várzea paulistana, servia como entreposto para a venda daquelas substâncias que se convencionou denominar como drogas.



Escapara à vigilância do patrão, da esposa, da sociedade, de si mesmo



– naquela tépida tarde de terça-feira –



em busca duma dose pra longe de sua própria realidade



– desatinos em nada baseados.



Alguns garotos batiam bola num canto do campo, outros empinavam pipas, e algumas crianças corriam, apenas.



Logo viu Êh, ali nos fundos do grande terreno que abrigava o Estrela Dalva, veterano time de várzea da zona norte de São Paulo:



– Fala Eh, beleza?



O mercador de loucuras urbanas rebateu:



– Fala rapaz, certinho? Qual é a boa?



O sol começava a arder.



– Tem um chá aí?



Êh ralhava com um menino e uma menina – seus filhos – que se sujavam brincando no chão de terra.



– Cara, cê deu sorte; chegou um bom ontem. Vai querer quanto, tem de dez e de vinte?



– Me dá um de vinte...



Logo ao lado, no barranco que dá pra rua de baixo, Êh pegou a marijuana escondida. O viajante pegou a nota de 20. Trocaram gentilezas. E começaram a preparar um baseado.



– Eaí, como estão as coisas por aí?



Êh ainda não havia convencido seus filhos a deixar de rolar pelo chão de terra.



– Tá foda, os cara tão em cima... ontem mesmo a Rota pintou por aí...



A tarde fazia-se cada vez mais alaranjada, naquela tez do deserto, típica cor do verão. Nisso chegou Emejota, que passava o bagulho no campo do São Cristóvão, co-irmão e antigo rival do Estrela Dalva, logo ali a três quadras de distância.



- Eaí, beleza?



- Como tá o movimento lá embaixo? – perguntou Eh.



O rapaz (não devia passar de 17) estava sem camisa – e agitado.



- Porra Eh, os cara viero com tudo em cima pra cima de mim! Metendo os cano, queriam me empurrar o bagulho... Falei que não era meu e o cara engatilhou, falou que ia estourar minha cabeça! – narrava Emejota, olhos esgazeados, ardendo. – Mano, foi foda...



Êh não esboçava reação enquanto olhava a cara assustada de Emejota. O viajante observava os dois traficantes discutindo, e sentia o medo do jovem, falando do enquadro que tinha tomado, e o desespero, ainda vivo, latente, em seus olhos.



- Achei que não ia sair dessa, véio... – disse, pra depois pegar o seu filho, que brincava com a menina de Êh, e sumisse morro abaixo.



Quando o baseado queimou-lhe os dedos, Êh enfim cansou-se de ralhar com os filhos e os levou para dentro de casa. Não sem antes descolar para o viajante o fumo que este havia ido buscar.

Chove chuva

Chove chuva




roxa



na voz do



bem



jor



jorge



de todos os



santos



e a chuva realmente



caia



lá fora



pela noite afora



encharcava os



sonhos de areia



amargos



(...)



lembranças de um



tempo



perdido



nas brumas da memória



esquecida



do gosto de tudo



do antes



do hoje

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

7 centímetros

Seu dia havia sido difícil. Pelo menos, ele assim o percebera. Pudera, desde que abrira os olhos pela manhã (despertara?), tudo o mais lhe irritara: o acordar cedo, o formato da pia do banheiro (e o seu nariz no espelho), o perfume do café, o beijo da mulher. No ônibus, seu drama continuara. À falta de lugar para sentar, mesmo as frágeis (?) velhinhas pareciam-lhe como latifundiárias a usurpar o seu quinhão de terra e amplidão - o pão. A chegada ao trabalho trouxera a saudade do certeiro estilingue com que abatera variadas espécies voadoras na infância. Até mesmo morcegos, e outras aves estranhas. É, o dia havia passado. Pensamentos estranhos sobrevoados. E ele, ainda enfurnado no mau humor dolente, algo um tanto silente, apesar de poente. Quando, de repente, o labirinto lhe pareceu claro, como a mais profunda imensidão. Para que limitar, frente ao infinito? E num repente, o mau humor se desfez. Alegria refez. A cor profunda nesse coração. Tudo muito bonito, tudo muito poético. Bem que poderia ter sido assim, sua percepção sobre a própria chatice e obtusidade. Mas não; como é de praxe ao ser humano, ele aprendeu pelo susto, pelo assombro, pelo choque. Em uma briga de trânsito, para ser menos evasivo - é, a névoa da cidade anda densa, as pessoas tensas, com presa de chegar e continuar sem estar. Pois bem, a briga nem foi com ele, que estava, ali sentando no ônibus, no caminho de volta pra casa, como quase sempre pensando em si, absorto em divagações sobre os seus problemas (a comida do refeitório, a falta de reconhecimento de todo o mundo em relação ao seu talento e valor, o excesso de compromissos, o fato de ainda não ter comprado os últimos modelos de IPhone e IPad, a derrota de seu time do coração, a louça que sua mulher não havia lavado, a incompetência das pessoas, em comparação com a sua, a gripe que lhe doia o corpo...). Estava lá dentro, encolhido no desconfortável banco, quando uma voz, a princípio distante, depois bem clara, acompanhada de uma estridente buzinada, disparava um sonoro "vai se foder, porra!" - era o motorista de um carro que estava engavetado pelo ônibus que servia de transporte para o nosso herói retornar de seu calvário cotidiano. "Fica aí atrás mesmo, seu otário! Se tá com pressa, pega um helicóptero", retrucou o motorista. O motorista explodiu: subiu com o carro na calçada e passou à frente do ônibus, impedindo sua passagem. A mão estendida para fora empunhava uma arma. O disparo, seco, entrou pelo vidro dianteiro, longe do motorista. A bala viajou e passou frente aos olhos de nosso indócil personagem. A sete centímetros de sua cabeça, a máscara rubra da morte entoou sua sinistra cantiga. E o fez pensar em tudo aquilo que deixava de pensar. Se ele mudou depois disso? Se parou de reclamar e passou a agradecer tudo que tinha, a vida que levava? Se notou o quão ampla e ao mesmo tempo fugaz a vida por ser? Não há notas sobre isso. Apenas alguns boatos dão conta de que, depois de quase morrer, ele começou a viver, enfim.

sábado, 27 de agosto de 2011

Tente

Tente chorar hoje

com tristeza

ou alegria

as incertezas da vida



Tente sentir hoje

com certeza

ou arredia

a eternidade da vida



Tente cantar hoje

com verdade

ou utopia

a melodia da vida



Tente compreender hoje

com sabedoria

ou aflita

a grandeza da vida



Tente compartilhar hoje

com reservas

ou desprendida

o repasto da vida



Tente recordar hoje

com saudade

ou nostalgia

a beleza da vida



Tente amar hoje

com sinceridade

e verdade

toda tua vida

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Horizontes

Dos horizontes emergem
sonhos
paisagens
eternos retornos

recitais
sinfonias
intensos voos
sob a luz do luar.

Nos horizontes renascem
sorrisos
beijos
eternos sentimentos

cálidos
vastos
gestos de amor
sob a luz do luar.

Dos horizontes ecoam
revoltas
desejos
eternos receios

medos
labirintos
tortuosos caminhos
sob a luz do luar.

Nos horizontes explodem
tormentas de sangue
e solidão
eternas feridas

profundas cicatrizes
irascíveis lutas
íntimas
sob a luz do luar.

Dos horizontes ressurgem
luzes
amigos
eternos destinos

entrelaçados
irmanados
mãos estendidas
sob a luz do luar.

Nos horizontes tão lindas
flores
cores
odores

refletem um jardim de belezas
tão plenas
de amor e paz
sob a luz do luar.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

infinito

infinita é a estrada
infinita é a força
infinito é o olhar
e também o sonhar

segunda-feira, 11 de julho de 2011

rabo de cavalo

é lindo ver uma mulher arrumar o cabelo


as mãos delicadas



as unhas pintadas



a leveza (des) medida



o olhar n’algum lugar



e a mente



a vagar



– alma a viajar –



como numa tormenta



a chama do desejo



rebenta



ao ver-te assim



tão dona de si



é lindo ver uma mulher arrumar o cabelo

domingo, 15 de maio de 2011

eram 3 horas da madrugada

e a lua brilhante

refletia em seus olhos

o imenso céu da cidade



e enquanto olhava pela janela

do apartamento no 3º andar aonde

vivia

pensava

no que tinha sido feito da vida

e nem ao menos

o que tinha sido feito do dia

lembrava direito



o ruído da TV

misturado ao latido dos cachorros

ecoava em sua mente

já tão cheia de ecos



e os gritos do Johnny Boy

De Niro / Scorsese / e Keitel

lhe faziam lembrar dos

caminhos perigosos

que estava a trilhar



foi quando a bituca

queimou

seus dedos

e a última fumaça

penetrou as narinas

que a lua deixou-se encobrir



logo aí decidiu dormir

para em breve acordar

mais uma vez

segunda-feira, 2 de maio de 2011

e as estrelas seguiram brilhando no céu

havia acabado de chegar em
casa
quando o telefone tocou

pensou ser sua mulher
apressou-se
em atender. ao primeiro

- alô

ouviu apenas
sons relutantes
ao fundo:

- alô?

ecos distantes
vozes dissonantes
rumores:

- alô...

e por um instante
sua alma vacilou
a voz faltou

- (...)

e o medo instaurou-se
em seu coração
destilou

- (...)

quando recobrou
a emoção
escutou aquela voz

suave, voraz

que falava com
não-sei quem mais

- vou voltar pro meu inglês, apesar dele ser chato pra caramba!

- (...)

- é mesmo.

- (...)

- Às vezes é preciso ter nervos de aço...

- (...)

- pra continuar?

- (...)

- quando eu me encontrar...

- (...)

- sei que nada será como antes, amanhã.

- (...)

foi quando, de repente
a ligação caiu
e assim

sob a luz do luar
a banhar
seu sonhar

tudo seguiu
pro seu rumo
habitual

mas já nem tão igual
como antes
agora

(...)

e as estrelas seguiram brilhando no céu
amanhã
e depois de amanhã

quarta-feira, 27 de abril de 2011

caminhante noturno

no passo lento

tempo, movimento

lento

no soar das horas

a passar

a História passa

também

dispara

incessante

enquanto o homem caminha

lento

pelas ruas de Montevidéu

a pensar

vibrar e

sonhar

sempre

segunda-feira, 11 de abril de 2011

um dia qualquer

Hoje foi bacana: aprendi na TVdo busão que na Finlândia tem uma corrida em que os maridos carregam as esposas penduradas de ponta-cabeça, com as pernas enganchadas em seus pescoços, que o Brasil já foi campeão mundial de punhobol em 1999, e, um pouco antes, que vitalidade, gana e alegria não tem idade. Também achei uma foto jogada no meio da rua, nela dois rapazes estavam fumando, e envolto na fumaça espessa, um deles parecia que era eu... Acendi então um cigarro, e envolto pela névoa densa, continuei no caminho de volta pra casa. Não sem antes lembrar de Pyonyang, Paris, Seul, Washington, Trípoli, Roma, Damasco, Jerusalém, Palestina, os senhores da guerra e a paz, tão necessária e tão incerta...

segunda-feira, 14 de março de 2011

"Há sempre algo de ausente que me atormenta" - Camille Claudel

Aruanã

os Aruanãs vêm
do mundo dos rios
um lugar onde
não há
morte
nem
dor

Aruanã
ó Deus Tupã
a tua força
a tua luz
invade
ressoa
todas as músicas
em meu peito

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Rosa linda

Saudade
palavra triste
quando se perde
um grande amor (...)

Na estrada louca
da vida
irei cantando
a tua flor.

E logo verei teus
traços
rebrilhando
teus todos tons.

Um beijo vó!
Linda!

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

enquanto o repasto não chega

tenho fome

de um céu de
estrelas
luas
cometas

dimensões infinitas
para fugir do meu
universo em desencanto
dos descaminhos tantos

[enquanto o repasto não chega

neste mundo ainda em
loucura e vendeta
encerrado em si
careta

sacio minha fome
de sentimento, de infinito
com raras belezas
com vozes profundas

sopros de luz
clarões nas trevas
tão belas letras
e lendas

tenho sede