sexta-feira, 26 de abril de 2013

Punk!


Warning Festival

Montreal

Enquanto o alemão

Punk

Cospe cerveja

Na boca do outro

Alemão

Punk

A banda toca

E o guitarrista sorri

E sua guitarra grita

Sex Pistols



– sim, eu ouvi a imagem clamar –

Punk

Na foto ao lado

O senhor abraça

O jovem

Punk

Num subúrbio qualquer

De Londres

A imagem é bonita

Singela

Em meio a uma miríade

Convulsão

De som

Revolta

Fúria

E desilusão

Punk

Em imagens

Nuas

Cruas

Ruas

De bandas

Punk



Boom Boom Kid

KGB

Teu Pai Já Sabe

Peligro Social

Fugazi

Guar

Lugares

E pessoas

Punk

Em Curitiba

Marty

A garota fumando em

Lima

Oaxaca

Inferninhos

Fétidos

O começo do fim

Do mundo

São Paulo

A exalar

Punk



Nestas cenas

Fraturas

Expostas

Do grito primal

Nascido no âmago

Punk

Seja no

Peru

Polônia

México



Brasil

Canadá

Japão

Na puta que o pariu o

Punk

Nasce

Morre

Renasce

Explode

E que se foda

O sistema

Punk

To aqui na Matilha Cultural

Nesta terça-feira

09/04/2013

Na exposição do fotógrafo

Uruguaio

Martin Sorrondeguy

Punk

Ao redor do mundo

E acaba de começar o show

E o vocalista da banda

Likso

Grita alto pra caralho...

Bom, pra resumir, e

Não explicar

Esta noite



Punk

E louca

Transcrevo

O que vejo

E leio

Numa foto da exposição

Uma moça

Punk

Segura um cartaz

Escrito:

Resistencia

Guitarras asesinas

Para la revolución

Resistencia

Te advierto

La natureza

De tu opression

És la estetica

De mi anarkia

Punk

* esta poesia nasceu de minha visita à exposição que aborda o universo  underground punk "Get Shot", com imagens do fotógrafo uruguaio Martin Sorrondegui, captadas ao redor do mundo, e em cartaz até 12 de maio na Matilha Cultural, em São Paulo. (mais informações você encontra nesta matéria que escrevi para o Fala Cultura!: http://falacultura.com/2013/04/21/matilha-cultural-punk/

sexta-feira, 19 de abril de 2013

O ciúme


Eward Munch - Jealousy - 1895

Surgiu sorrateiro, nas fendas da insegurança, e foi se infiltrando, matreiro, sinuoso, pelo corpo débil e tenso daquele homem que, como árvore esmaecida da força vital, lentamente começou a apodrecer, vendo o ciúme destilar por seu caule oco o fel da dúvida.

E assim o gesto, para ela natural, para ele era o indício de tudo, do jogo sórdido das paixões passageiras e infiéis que, na verdade, existia apenas em sua imaginação. Como isso ele não sabia, nem percebia, passou então a atormentá-la, a compartilhar com sua esposa o delírio que o acometia.

De início, ela se esforçava para acalmar a situação. Colocava panos quentes. Fingia que não ouvia. Mesmo porque ele não se esforçava em dissimular o que sentia, e a constrangê-la, em diversas situações, por conta disso. É por amá-lo, acima de tudo, que ela agia dessa forma conciliadora.

Era, aos 27 anos, bastante madura, como se depreende de sua reação ante ao ciúme do marido. Consciente de suas qualidades, ela sabia ser uma mulher extremamente bonita, atraente – e tinha a exata noção do que esses predicados significam e quantas portas podem ser abertas pela suave e enganadora visão da beleza idealizada…

E, para desespero de seu marido, ela detinha em si a expressão do feminino em essência, seja pelos lábios socialistas de tão vermelhos e rebeldes, seja pelos olhos verdes cor do mar e da esmeralda, seja pelos cabelos de girassol e ventania, seja pelo corpo macio, sedoso, manhoso, seja pela sua inteligência e talento ao piano.

Por tudo, ou nada disso (pois infelizmente nosso agoniado protagonista, apesar da posse, há tempos não percebia os encantadores atributos de sua esposa, turvados pela aspereza imposta pela rotina), o ciúme acomodou-se em seu coração e lhe tirou a razão.

Logo ele, um homem fleumático, cheio de maneirismos, dogmático e sistemático, via seu esquema ruir. Foi quando uma ideia sinistra e ao mesmo tempo a mais adequada – em sua opinião – surgiu em sua mente: porque não acabar com o sofrimento, eliminando a causa de tantas dores?

Foi exatamente neste instante que o destino dela se definiu, sem ao menos ela saber, enquanto tocava ‘Sonata a Kreutzer’, de Beethoven, junto àquele violinista, amigo de seu marido, que agora lhe era tão próximo, e que tanto prazer lhe dava ao tocar junto com ela, em dias e noites de música e sonho…


*Texto inspirado no livro Sonata a Kreutzer (1889), do escritor russo Liev Tolstói

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Extracorpóreo


Rembrandt - Philosopher in Meditation - 1632


Assim sentia seu ser. Estranho. Como numa terra estrangeira, distante, tão inóspita quanto relativa. Atentou ao clamor - calor, pavor, amor - e seguiu sem entender quanto menos transcender a estrada, o destino. Sim, porque esse departamento de sua vida – o destino – era definitivamente uma seção confusa de seu também confuso interior. Recuando ante o umbral, abandonou-se ao rumor de suas próprias imperfeições. E como o umbral, aquele limiar a que se entrega o consciente quando a um passo da iluminação, não se atinge tão facilmente, continuou a dedicar-se ao vagar, por entre brumas e sonhos, em busca da tal visão inaugural, mais uma vez.