segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Ela

Foto: Rodrigo Erib (http://tuttoposto.tumblr.com/)


O dia, amanhecido
Cinzento
Cingia
A alma feito unguento.

Corria
O sentimento
Denso, fervia
A ansiedade lá dentro.

Lá estava ela
Amanhecida
E bêbada.

Nua
Sem forças
Levada à tormenta.

Na sua cabeça
Flanavam os pensamentos
Despidos de certezas
Perdidos aos ventos.

Em seus delírios
Dançavam
Sorrateiros
Momentos, realejos.

Seus olhos
Fundos
Refletiam seu mundo.

Seus sonhos
Infecundos
Enevoavam seu rumo.

Deitada, certo olhar ao acaso
Tirou-lhe do pasmo
A levou adiante
Alma novamente andante.

Os sentidos retornaram
Os destinos reafirmaram
Recuos e medos
Ruíram, ledos.

Um poema, inspirado
Íntimo retrato, pincelado
Naquele verso, musicado

Tragada profunda
Alma fecunda
Tabacaria rotunda.

Recônditos expurgados
Ausência de si
Um acorde em Si.

Ressoou dos líricos versos
Poeta português, de fados inversos
Álvaro de Campos, encanto
Revolveu, em todo seu canto.

E a fez feliz
Força motriz
Num êxtase febril, juvenil
Dum antigo sonho pastoril.