Eleanor Rigby
É tão estranho sentir
o eco surdo da solidão
o silêncio mudo da multidão
e alado o teatro ouvir.
As cortinas, como rubro oráculo
descerram
anunciam
o fim do espetáculo.
O ator, reator, ainda na berlinda
num outro reflexo
recebe o amplexo
de mais uma história finda, linda.
No peito amplo, acalanto
outra vida, sentimento
orgulho, rebento
receio, espanto [encanto.
De se ver
novamente
meramente
em seu ser.
Gestos outrora
íntimos, ritmados
lamentos desvelados
retratos da aurora.
O som dos passos
no tablado
destino alquebrado
desejos lassos.
Ruídos
proibidos
sentidos
retraídos.
Máscaras a
sorrir
motivos
do porvir.
Porto Solidão
tão turva
tão chuva
rubra obsessão.
Arrebatado pelo sutil
sopro da profunda dimensão
percebeu seu puído coração
estalar como gelo ardil.
Mil olhos a lhe encarar
da fúnebre platéia vazia
mil olhos a lhe ancorar
entre delírios e fantasias.
Olhares do mundo
do eu moribundo
do ser absurdo
cantos raros, eunuco.
O palco, multidão
o palco, Saara
o palco, Samsara
o palco, procissão.
No ato
seu ninho
seu vinho
fogo fátuo.
Num átimo
do átomo
do início
suave sacrifício.
Para além do infinito...