terça-feira, 30 de junho de 2009

Gripe dos porcos

A gripe suína está na boca do povo. O que não está nos seus ouvidos e consciências é que o vírus H1N1, nome técnico da primeira pandemia do século XXI, pode ter sido fomentado nos fétidos chiqueiros mantidos pelas Fazendas Smithfield, multinacional norte-americana, em uma de suas subsidiárias em Veracruz, estado do vizinho México.

O jornalista Al Giordano, do site
narconews.com, descreve, em um artigo repleto de referências e dados contundentes, como esta multinacional, depois de receber uma multa de US$ 12,6 milhões por despejar toneladas de excrementos de porcos no Rio Pagan, em Smithfield, Virginia, Estados Unidos, aproveitou-se das benesses da “liberdade” advinda do Tratado Norte Americano de Livre Comércio (NAFTA), instituído em 1994, e pôde seguir com esta prática tão pouco higiênica, só que agora junto aos queridos hermanos.

Entretanto, espaço para um imprevisto: a combustão gerada por toneladas intermitentes de excrementos suínos, aliadas a uma série de outros ingredientes (placentas, leitões acidentalmente amassados por suas mães, baterias velhas, garrafas de inseticidas quebradas, seringas de antibióticos, porcos recém-nascidos) que se misturam logo após serem sumariamente amassados através de ripas pelos milhares de porcos que, a propósito, se amassam - e se pisoteiam e se matam - em celeiros semelhantes a armazéns, teria gerado o ambiente propício para a mutação redundante no agora temível vírus H1N1.

Ou seja, a gripe suína seria filha legítima do mais “flexível” neoliberalismo, também conhecido como capitalismo selvagem, permissionário e legitimador de uma empresa que, “segundo a revista
Rolling Stone, abate aproximadamente 27 milhões de porcos ao ano para produzir mais de 2. 72 bilhões de quilos de produtos suínos empacotados. (A instalação de Veracruz contribui com três por cento da sua produção total.)”, descreve Al Giordano no artigo, que pode ser lido por completo em http://narconews.com/Issue57/artigo3512.html,

A Smithfield Farms foi flagrada pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) adicionando algumas toneladas de fezes de porcos às corredeiras do Rio Pagan? No problem, we have Nafta. E a empresa migra para o México, aonde se aproveita da fiscalização frouxa e cria lagoas de bosta.

Só que nesta brincadeira a alquimia se fez presente, e do produto do ventre dos sofridos porquinhos emergiu a gripe suína.

“Nubes de moscas emanan de las lagunas de oxidación donde la empresa Granjas Carroll vierte los desechos fecales de sus granjas porcícolas, y la contaminación a cie- lo abierto ya generó una epidemia de infecciones respiratorias en el poblado La Gloria, del valle de Perote, dijo Bertha Crisóstomo López, agente municipal del poblado”, noticiou o repórter do jornal mexicano La Jornada, Andrés Timoteo Morales, em 05 de abril de 2009, acerca da situação em La Gloria, cidade mexicana que registrou em fevereiro o primeiro caso de “gripe suína”, o “paciente zero” Edgar Hernández, de cinco anos, hoje um sobrevivente da doença.

“Ya son 400 las personas atendidas; sin embargo, gripas, neumonías y bronconeumonías afectan a 60 por ciento de los 3 mil habitantes de La Gloria, manifestaron”, continua a escrever o jornalista na matéria, que pode ser acessada em http://www.jornada.unam.mx/2009/04/06/index.php?section=estados&article=030n1est.

Resumo da ópera bufa: o neoliberalismo, propalado como solução para as questões de desigualdade social e melhora da qualidade de vida mundial, seria, por vias tortas, o artífice da primeira pandemia (um epidemia que atinge 74 países ou mais) do século XXI.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Eclipse lunar

Sob a luz da
Lua
o exército de pernilongos

Sob a luz da
Lua
avançava pela cidade aberta

Sob a luz da
Lua
o tempo não existia nem ao menos sorria

Sob a luz da
Lua
uma nuvem de pernilongos pairava imponente,

no centro de tudo.

Até que veio o eclipse lunar
e apagou a luz da lua

terça-feira, 2 de junho de 2009

Quero


Quero falar a amigos que não conheço pessoalmente,
mas sinto intimamente.
Quero dizer o que penso a respeito do mundo,
desejo de que se transforme a fundo.
Quero ouvir sons dos quais não me recordo mais,
acordar com o barulho de um outro mar.
Quero trocar idéias em um diferente linguajar,
compreender principalmente o não falar.
Quero aprender a me expressar sem me preocupar
se irão me colocar no certo lugar.
Quero observar sem julgar,
ao menos respeitar o direito de errar.
Quero abrir espaço no meu interior,
sentir a telúrica movimentação em todo o seu esplendor.
Quero continuar a acreditar no caminhar,
pra frente andar sem hesitar.
Quero comer, dormir, respirar, amar,
sem permitir à rotina tudo vulgarizar.
Quero narrar o que bem me faz,
propagar alegria que não se jaz.
Quero ser solar, energia que faz brotar.
Quero ser lunar, poesia que faz sonhar.
Vou querer sempre ser o que sou.
Vou querer sempre viver o que é belo.
[Mesmo que o belo esteja escondido no lixo].

Fotografia


Capturo teu instante
revejo teu relance
sigo tua rota
errante
tua via

na fotografia

admiro teu relance
num instante
me perco em tua via
sem rota
errante

na fotografia

Labirinto

O Reflexo da Verdade


Uma poesia complexa
que versa sobre o
universo e seus reflexos
revela-se pequena,
quando se percebe
que a pergunta na verdade é:
quantos universos são necessários
para se encontrar
o reflexo da verdade?